— COLUNISTAS/ João Batista Freire

Especialização precoce no esporte

ESCRITO EM — 07/06/2023

12:04 hs

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            O conhecimento científico atual não justifica, em nenhuma hipótese, a especialização precoce, do que quer que seja. Por exemplo, não haveria nenhum mal no fato de uma criança de cinco anos aprender a ler. Haveria mal sim, se o aprendizado da leitura tomasse o seu tempo de ser criança.

            A natureza organiza-se na diversidade e não na especialidade. Os organismos, de modo geral, antes de se especializarem, se diversificam. Os prédios, antes de serem construídos, recebem um alicerce.

            Há princípios gerais que merecem ser lembrados quando do ensino do esporte. Por exemplo, nenhuma criança aprenderá tanto quanto em seu primeiro momento de vida. Nenhuma criança aprenderá tanto quanto em seu primeiro minuto de vida. Nenhuma criança aprenderá tanto quanto em sua primeira hora de vida; e assim por diante. É um princípio lógico; quando nasce uma criança, ela nada sabe ainda, portanto, poderá aprender tudo. À medida que vai aprendendo, menos coisas terá para aprender.

            Jacques Mehler, um psicólogo francês, afirma que, quanto mais se aprende, menos se pode aprender.

            Ainda um outro princípio: uma vez que a espécie humana precisa realizar aprendizagens para sobreviver, precisa de um tempo especial para proceder a essa aprendizagem. Esse tempo é a juventude.

            Portanto, na hipótese de investirmos, no começo da vida, em grandes doses de um único conhecimento, preencheremos o espaço de aprendizagens, ainda imenso, com uma única coisa. Ora, se o sujeito é jovem para aprender bastante, se ele tem tudo ainda para aprender, por qual motivo teria que se especializar. Numa outra hipótese, se os conhecimentos específicos necessitam de base sólida para se assentarem, estariam comprometidos quando da inexistência dessa base. Evidentemente que a especialização precoce comprometeria a formação de uma base sólida.

           Se exceções existem, não podem ser tomadas como regra geral. Os atletas mais geniais viveram experiências que os homens comuns não conseguem viver. Julgar que um menino, sendo treinado desde o berço para jogar futebol, chegue a ser como Pelé, pode comprometer gerações de possíveis bons futebolistas.

João Batista Freire
Consultor Pedagógico
Graduado em Educação Física pela FEFISA, mestre em Educação Física pela Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo – USP e Doutor em Psicologia Escolar pela USP.
COLUNISTAS DO IEE

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