— COLUNISTAS/ Alexandre Arena

O IEE e a estruturação do atendimento a crianças e jovens neuroatípicos

ESCRITO EM — 04/07/2023

09:02 hs

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O Instituto Esporte e Educação, desde a sua fundação em 2001, buscou estruturar sua metodologia em práticas pedagógicas que contemplassem na sua essência o PRINCÍPIO DA INCLUSÃO. No IEE, ninguém pode ficar de fora e estar no jogo significa estar jogando.

A partir dele, organizou-se e estruturou-se os outros 4 princípios do esporte educacional: CONSTRUÇÃO COLETIVA, DIVERSIDADE, EDUCAÇÃO INTEGRAL E AUTONOMIA. Juntos, são os pilares estruturantes de todas as ações e práticas pedagógicas da instituição. Assim tem sido desde 2001 e, a cada ano, novos métodos, estratégias, jogos e atividades são desenvolvidos e aplicados nas centenas de aulas, eventos e encontros de esporte educacional realizados todos os dias.

Com atendimento direto de milhares de crianças e adolescentes, capacitação de centenas de professores e gestores e contato direto com escolas, secretarias de educação, espaços públicos etc., o IEE, atento e alinhado à consolidação das legislações de garantia de direitos e acesso, foi protagonista, junto com escolas, comunidades e famílias, para o aumento significativo e a ocupação de crianças e jovens, com diferentes tipos de deficiência, destes espaços.

Atualmente, as práticas inclusivas estão cada vez mais aprofundadas e com um olhar diferenciado para crianças e jovens com deficiência. Seja nas aulas de esporte educacional organizadas e aplicadas nos Núcleos de atendimento direto do IEE – Rede de Núcleos -, presentes em escolas, em comunidades, nas ações de atendimento em eventos como a Caravana do Esporte, no atendimento nas aulas de educação física do Projeto de Educação Integral com Esporte e Arte em Pindamonhangaba ou nos projetos de formação de professores que o IEE lidera em todo Brasil.

Como estratégia de aprofundamento dos estudos e aplicação prática, desde 2022 – com o retorno das ações da Caravana do Esporte e da Caravana das Artes de maneira presencial e em um momento de retomada das atividades educacionais ainda sob os efeitos da pandemia da Covid 19 -, profissionais do Instituto Esporte e Educação e do Instituto Mpumalanga  – parceiro realizador da Caravana das Artes -, iniciaram, durante as etapas da Caravana, um ciclo de estudos e de aplicação prática de atividades esportivas e artísticas para as crianças neuroatípicas, com evidência  nas crianças e jovens com Transtorno do Espectro Autista – TEA.

Foram muitos encontros da equipe de profissionais da Caravana, do IEE e Mpumalanga com especialistas no tema, incluindo a participação de dezenas de profissionais atuantes nos diferentes contextos dos municípios atendidos, como Aracajú/SE, Mateus Leme/MG, Corumbá/MS e Cabo de Santo Agostinho/PE. A cada etapa da Caravana, avançava-se construindo novas práticas e estratégias dentro da metodologia do esporte educacional e da arte para atender com qualidade crianças neuroatípicas.

Em 2023, como resultado dos estudos, experimentação prática e avanços na busca de estratégias pedagógicas cada vez mais eficientes e inclusivas para o atendimento de crianças neuroatípicas, o IEE organizou um Núcleo Temático alinhado a um grupo de trabalho focado nesse tema – NTTEA+ – e tem realizado ações de formação e supervisão da prática pedagógica em diferentes espaços do IEE. Em parceria com o Instituto Mpumalanga, passou a oferecer a professores, pais, mães e profissionais de apoio a crianças neuroatípicas das escolas um encontro de formação com teorias e práticas de esporte e arte inclusivos nas etapas da Caravana.

A estruturação do trabalho a partir do Núcleo Temático – NTTEA+ – tem proporcionado a organização de diversas ações com foco no aprofundamento, desenvolvimento e compartilhamento de estratégias metodológicas que garantam não só a inclusão, mas aprendizagem e desenvolvimento de crianças neuroatípicas em atividades esportivas, artísticas e de movimento.

Tais ações estão organizadas a partir dos seguintes eixos estruturantes: Comunicação, Cenário de Aprendizagem e Intervenção Pedagógica.

No eixo Comunicação, o foco está na utilização de uma comunicação clara, assertiva e que use diferentes recursos didáticos visuais para aproximar as crianças e jovens verbais e não verbais do ensino-aprendizagem.  A utilização de cartões e banners com figuras ilustrativas é uma das estratégias para estabelecer rotinas claras, fornecer instruções consistentes e ter um espaço físico organizado.

Com as famílias e escolas, a utilização da História Social – encarte explicativo detalhando o que acontece naquele ambiente – de cada espaço de atendimento, auxilia na segurança e sensação de previsibilidade dos acontecimentos, garantindo conforto e proteção.

O Cenário de Aprendizagem é caracterizado pelo espaço físico onde são desenvolvidas as práticas pedagógicas. Um ambiente seguro e estruturado é fundamental para pessoas neuroatípicas se sentirem confortáveis e engajadas.

A utilização de bolas de diferentes pesos, tamanhos, texturas, cores, de espaços com dimensões adaptadas das tradicionais e todo tipo de diversificação de recursos materiais aumenta as possibilidades de participação e sucesso de crianças e jovens neuroatípicos nas atividades, jogos e brincadeiras propostos.

Muitas pessoas autistas têm sensibilidades sensoriais. É importante estar atento a essas questões e fornecer opções para minimizar desconfortos, como controlar a altura do som e ou criar áreas de descanso tranquilo para momentos de pausa.

A Intervenção Pedagógica é o eixo que centraliza as ações práticas das aulas e suas variações. Os esportes, lutas, ginástica, danças, práticas de aventura etc. são ensinados a partir do JOGO e da brincadeira e todas as suas possibilidades de variações.  E com o uso da ferramenta didática SISTEMA PROTEGE – metodologia do IEE que permite ao educador e educadora modificações nos jogos a partir das suas variáveis: pessoas, recursos, objetivo, tempo, espaço, gestos e diferentes funções – é o elemento central das práticas pedagógicas.

É importante lembrar que crianças neuroatípicas têm níveis de suporte diferentes e alguns participantes autistas podem se beneficiar de suporte individualizado, como profissional de apoio ou voluntário que esteja familiarizado com suas necessidades específicas. Esse suporte pode ajudar na compreensão das atividades, na organização e na interação social.

As práticas esportivas e de movimento são uma ótima oportunidade para promover a socialização e interação entre os participantes neuroatípicos / autistas e seus colegas. Incentivar atividades em grupo, trabalho em equipe e o desenvolvimento de habilidades sociais ajuda no crescimento social e emocional.

Cada pessoa autista é única, com suas próprias preferências, desafios e habilidades. É fundamental respeitar e valorizar a individualidade de cada participante, adaptando as práticas esportivas conforme necessário para atender às suas necessidades específicas.

Os desafios da inclusão são desafios de todo dia. O número de crianças diagnosticadas ou com hipótese diagnóstica para transtornos do comportamento aumenta a cada dia nas escolas e espaços formais e não formais de educação. É um tempo de oportunidades para ensinar e aprender, conviver, aceitar, desafiar-se e sensibilizar-se. Sim, a sensibilidade é a porta de entrada para se aprender sobre esse “mundo” de comportamentos e expressões múltiplas tão distintas. Cada pessoa é única, cada pessoa com autismo é única e aos profissionais da educação, do esporte, das artes, do movimento apresenta-se essa enorme oportunidade de ENSINAR E APRENDER.

Equipe do Núcleo Temático

Alexandre Dezen Arena

Edilene Lura

Marilene Tavares

Andrea Pucci

Juliana Engracina

Arlinda Viana

Leticia da Silva Lima.

Alexandre D. Arena
Coordenador do Instituto Esporte & Educação
Graduado em Educação Física, Especialista em Administração e Marketing Esportivo.
COLUNISTAS DO IEE

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