— COLUNISTAS/ Celiane Oliveira

Jogos que estimulam o pensamento crítico e criativo

ESCRITO EM — 17/10/2023

11:43 hs

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Quais idéias podemos lançar para aguçar o pensamento a respeito de uma aula de esporte  educacional que possa contribuir para que os estudantes aprendam a elaborar um pensamento mais crítico e bem formulado ou seja “pensar melhor”?

Alguns leitores podem estar pensando, mas o que significa “pensar melhor”? O que isso tem a ver com jogo? Com esporte educacional? Com a roda de conversa?

Há algum tempo estudando sobre o “aprender a pensar bem” aprendi que todos podem aprimorar o pensamento, tornando-se uma pessoa cada vez mais crítica, reflexiva, autônoma e criativa. Podemos melhorar o pensamento sobre o mundo, as coisas, as pessoas e os relacionamentos. Podemos “pensar melhor” e, consequentemente, “agir melhor”, baseados em pensamentos mais bem elaborados.

Formamos os pensamentos a partir da relação que fazemos entre as informações que captamos por meio dos sentidos: olfato, paladar, visão, audição, tato e cinestésico. É através dessa relação que criamos, imaginamos, simbolizamos, memorizamos ou formamos “idéias”, conceitos, juízos, raciocínios e valores.

Podemos afirmar que “o corpo todo trabalha na produção e na construção do pensamento, mas é no cérebro que este se processa”. Quando entendemos o modo como os indivíduos aprendem a pensar e principalmente, as atividades necessárias para que o indivíduo aprenda a “pensar bem”, também vislumbramos a possibilidade e a necessidade de que essas habilidades sejam ensinadas em diferentes espaços de aprendizagem da educação formal e não formal.

São alguns exemplos de habilidades do pensar: observar, perceber, perguntar, analisar, classificar, imaginar, supor, provar, formular hipóteses, pressupor, definir, conceituar, inferir, traduzir, contextualizar, multiplicar, dividir, somar, etc.

Parece-nos que essas “ações de pensamento” podem ser realizadas por todas as pessoas, algumas com mais facilidade que outras. Entendemos também que a maior dificuldade é articular estas informações entre sí para produzir um pensamento objetivo, seguro, profundo e consistente.

Será que se misturarmos todas essas “idéias”, podemos encontrar a resposta em uma “boa aula de esporte educacional”?

Não temos uma fórmula mágica para isso, mas acreditamos que um professor que se dedique à aprendizagem dos alunos, pode planejar boas estratégias (rodas de conversa, jogos e situações problema) que contribuam para a reflexão. Trarei aqui algumas dicas pedagógicas que podem ser aproveitadas por você, professor, na hora do planejamento:

São componentes mínimos para uma boa aula de esporte educacional que contribuem para a construção do “pensar bem”:

– Professor provocativo, questionador, impaciente com o pensamento descuidado;

– Grupo de educando ávidos por se envolver num diálogo que os desafie a pensar e produzir;

É papel do professor na educação para o pensar:

– Ser árbitro e mediador do processo de discussão;

– Ser facilitador com a tarefa de estimular as crianças a raciocinarem sobre seus próprios problemas por intermédio das discussões sobre os jogos, nas rodas de conversa;

– Mostrar interesse pelos diferentes pontos de vista ou nas confirmações e contradições de opiniões particulares;

– Estimular os comentários das crianças, propiciando o desenvolvimento da discussão;

– Estar ciente de que o “diálogo” geralmente é aberto e pouco estruturado, por isso é necessário reconhecer oportunidades para que as crianças explorem novas perspectivas;

– Criar oportunidades para indicar como as idéias podem se juntar e reforçar umas as outras;

– Desenvolver o hábito de ouvir e refletir;

– Evitar “divagações”,  ou seja, organizar o pensamento a partir de um ponto concreto.

São cuidados importantes na relação com  os alunos:

– Evitar um clima de desabafo ou de vangloriar-se na auto expressão;

– Observar a relevância da discussão;

– O tempo dedicado a discussão deve ser proporcional a relevância;

– Evitar que as discussões se transformem em “sessões de bobagens”;

As discussões sobre os jogos e as rodas de conversa devem caminhar para:

– Que os estudantes sejam capazes de trocar impressões, experiências, perspectivas;

– Que os estudantes compreendam a importância de reconhecer pontos de vista das outras pessoas e apresentem bons argumentos para suas próprias opiniões;

– Que os estudantes demonstrem insatisfação com opiniões expressas de modo simples e superficial;

São pontos de observação importantes para análise de uma boa aula de esporte educacional que auxilie na construção do “pensar bem”:

– Uma aula de sucesso é aquela em que os estudantes se envolvem nos jogos e depois  em uma animada discussão que lida com uma ou outra questão da aula. Embora a discussão possa distanciar-se um pouco do tema inicial, é nessas discussões que se provocam impressões duradouras nos estudantes.

– É menos importante que as crianças lembrem-se dos fatos do que aprendam a pensar efetivamente.

– Qualquer diferença, por menor que seja, na maneira de pensar dos estudantes, pode modificar todos os seus processos de pensamento.

– A ênfase deve estar no processo de discussão e não em atingir determinada conclusão.

– Os diálogos não devem ser autoritários ou doutrinadores, devem respeitar valores de investigação e de raciocínio. 

Acredito que as dicas expostas neste texto, extraídas do pensamento de vários filósofos e sistematizadas por Matthew Lipman, só terão valor para o professor que tem em sua caixa de ferramentas um grande (?) ponto de interrogação. É preciso ter disponibilidade e compreender a “dúvida” como ponto de partida de uma educação comprometida com o “pensar bem”. O professor que questiona, reflete e aprimora o seu pensamento a cada leitura, a cada aula, é também o professor que terá alunos criativos, questionadores, que pensam e agem com autonomia e com responsabilidade. Isso porque “pensar é articular, relacionar, associar idéias ou conceitos entre sí, atribuindo assim sentido e significado para os conteúdos de aprendizagem”.

Os jogos e as rodas de conversa são ótimas estratégias para ensinar a pensar bem. Mas lembre-se de que é preciso planejar bons jogos, planejar boas perguntas sobre os jogos e pensar como irá conduzir o diálogo para que todos os alunos possam refletir sobre as suas aprendizagens, fortalecendo assim o pensamento. Afinal de contas, “o fortalecimento do pensar nas crianças deve ser uma das principais finalidades da educação esportiva e não somente uma consequência casual.”

REFERÊNCIAS:

ADRIANO R. J, CAIO, M.C, FABIO D. Práticas Pedagógicas Reflexivas, 2ed. São Paulo: Phorte, 2007

DAMASIO A. O Mistério da Consciência. tradução Laura Teixeira Motta; revisão técnica Luiz Henrique Martins Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

CHAUÍ Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000. COELHO, Teixeira

EDGAR M. Os Sete Saberes Necessários a Educação do Futuro. São Paulo: Editora Cortez, 2007

FREIRE J. B. Pedagogia do Futebol. Londrina: Midiograf, 2002

FREIRE J.B. Educação como Prática Corporal. São Paulo: Editora Scipione, 2006

FREIRE P. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática Educativa. 3ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2007

TUBINO M. J. G. Dimensões sociais do esporte. 2ed. São Paulo/SP: Editora Cortez, 2001. 1992. 2001

MATTHEW L., ANN MS. S, FREDERICK S. O. Philosophy in the Classroom (Filosofia na Sala de Aula). Brasil/São Paulo: Editora Nova Alexandria S, 2006

Celiane Oliveira
Coordenadora do Instituto Esporte & Educação
Graduada em Educação Física e em Pedagogia; pós-graduada em Yoga, Especialista em Educação para o Pensar e Filosofia Política e Teoria Social.
COLUNISTAS DO IEE

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